1 de abril de 2011

GANDHI 'GAY' PROVOCA GUERRA CONTRA LIVRO

A Índia pode aprovar uma legislação para prender qualquer pessoa que insulte Mahatma Gandhi. Em alguns estados, a Justiça está tomando medidas para proibir a venda de uma biografia que, de acordo com tradutores da obra, indica que o “Pai da Nação” teria sido bissexual.

O livro Great Soul: Mahatma Gandhi and His Struggle with India (Grande Alma: Mahatma Gandhi e sua Luta com a Índia), escrita pelo autor premiado com o Pulitzer, Joseph Lelyveld, detalha a correspondência trocada em 1908 entre o combatente pela liberdade e Hermann Kallenbach, um fisiculturista judeu alemão. Alguns legisladores dizem que a reputação de Gandhi está sendo denegrida pela obra, que, segundo eles, sugere um caso homossexual com o fisiculturista.

“Mahatma Gandhi é venerado por milhões de pessoas, não apenas na Índia mas em todo o mundo. Não podemos permitir que qualquer pessoa faça inferências negativas sobre figuras histórias e as denigra. A história não nos perdoaria”, disse o ministro do Direito, M. Veerappa Moily, ao jornal Indian Express.

Uma emenda à Lei da Honra Nacional, de 1971, pode fazer com que Gandhi, a Constituição e a bandeira nacional sejam protegidos – qualquer insulto a Gandhi seria passível de pena de prisão.
Jornais americanos e britânicos citaram uma carta em que Gandhi escreve a Kallenbach sobre “quão completamente você tomou posse de meu corpo” como sendo prova da bissexualidade do histórico líder indiano.

O crítico Andrew Roberts escreveu no Wall Street Journal que a biografia mostra que Gandhi era “um ser sexual bizarro”. Lelyveld nega que seu livro diga que Gandhi era bissexual. A alta corte de Délhi, em julho de 2009, decretou que a atividade sexual gay não é crime. Mas a legislação da era colonial, que criminaliza o homossexualismo, não foi revogada e os relacionamentos entre casais gays ainda são tabu.
Gujarat, onde nasceu o líder da independência indiana, proibiu a venda e distribuição da biografia. Segundo a agência Reuters, a Justiça também está tomando medidas para proibir o livro. “A população de Gujarat jamais vai tolerar esse insulto a Gandhi”, disse o ministro chefe Narendra Modi, que lidera o partido nacionalista hindu Bharatiya Janata.

Outros casos

O livro de Lelyveld não é o primeiro a ser vítima de censura por parte de instituições indianas. Em outubro, um romance de Rohinton Mistry, Such a Long Journey (Uma viagem tão longa), foi tirado do currículo da Universidade de Mumbai depois de o autor ter sofrido ameaças do grupo político de extrema direita Shiv Sena.
Maqbool Fida Husain, o pintor mais famoso da Índia, vive no exílio em Dubai desde que grupos nacionalistas hindus o ameaçaram por ter feito pinturas de deusas hindus que mostram nudez.
 
Jornal da Tarde

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